19/03/09

Entrevista a uma grande mulher portuguesa: Elisabete Jacinto








1 – Olá Elisabete, é um prazer entrevistar uma grande piloto como você. Quer explicar como começou a sua paixão pelo Camiões De Todo-o-Terreno?
R: Começou por acaso quando decidi tirar a carta de moto, já passava dos vinte anos de idade. A moto começou por ser apenas um meio de transporte urbano e vai daí decidi fazer um passeio de Todo-o-terreno. Gostei muito e decidimos comprar motos próprias para o todo-o-terreno. Todos os fins-de-semana lá íamos nós para o campo. Depois alguém se lembrou de fazer uma prova de competição e desafiou-me. Achei que não ia ser capaz. Realmente não acabei a primeira corrida mas fiquei definitivamente apaixonada pelo todo-o-terreno e, até hoje, nunca mais parei.





2 – Qual foi o seu primeiro camião no Todo-o-Terreno?
R: O primeiro camião foi um Mercedes alugado a uma equipa espanhola com muitos anos de idade e uma espessa camada de tinta. Serviu como experiência e sobretudo para perceber que era algo que estava ao meu alcance.






3 – Qual o camião de Todo-o-Terreno que mais gostou de guiar?
R: Gostei muito do MAN M2000 que “faleceu” neste Dakar. Era uma simpatia de camião, muito fácil de conduzir e muito colaborante. Tive muita pena de o perder daquela maneira.





4 – Qual o piloto que mais gosta de defrontar? E quem é o seu maior rival?
R: Não tenho um que se destaque mais que os outros.
Quando vou para competição quero ficar o mais á frente possível na classificação. Isso depende da minha capacidade de condução, da preparação do camião da minha capacidade de gestão da equipa. Por isso penso que o meu maior rival sou eu própria porque estou sempre a tentar fazer melhor do que aquilo que sou capaz.





5 – Qual o momento que mais a marcou na sua carreira?
R: Tive vários momentos bons que foram um grande incentivo. Lembro-me de ter ganho uma etapa no rali da Tunísia quando estavam lá os Kamaz a correr e foi um momento espectacular. Outro foi em 2000 quando terminei o Dakar de moto pela primeira vez. O Grândola 300, foi a minha primeira prova em 1992 e talvez tenha sido a mais importante de todas porque foi aí que tudo começou.





6 – Tem algum ídolo? Se sim qual é?
R: Não sei se posso chamar-lhe ídolo mas tenho uma grande admiração por Valdimir Chagin. Acho que é de longe o melhor piloto de camião. Admiro e tenho um grande respeito pelo pai Deroy porque ele é, realmente, o “pai” da competição dos camiões de Todo-o-terreno.





7 – Falando do CPTT, acha que com os BMW X3 CC e com o Racing Lancer, este é um dos melhores Campeonato Português de Todo-o-Terreno de todos os tempos?
R: Não sei se será o melhor mas será sem dúvida um dos mais interessantes de seguir.





8 – Quais os seus objectivos para esta época?
R: Pôr o novo camião a andar com uma boa afinação e adaptar-me a ele o melhor possível. A aposta em resultados terá que ficar para o ano que vem.





9 – Falando do Dakar, o que acha deste Dakar Sul Americano?
R: O Dakar na América do Sul é sempre uma possibilidade mas não tem o mesmo encanto. Gosto muito mais dos terrenos de África e tenho pena que tenha havido esta viragem.





10 – Faz intenções de participar no próximo Dakar?
R: Sim, estou a organizar-me para participar. Principalmente agora que já tenho camião!





11 – Qual o factor que a atrai numa prova tão dura como é o Dakar?
R: O desafio e o facto de evoluir como ao superar todas as dificuldades que me vão surgindo.





12 – Na sua participação no Dakar qual o momento que foi mais marcante?
R: Se está a referir-se ao último Dakar o momento mais marcante foi aquele em que vi o camião arder na totalidade em pouco minutos. Marcante pela negativa, naturalmente. Foi de todos o momento mais terrível da minha carreira desportiva.





13 – Acompanha alguma outra modalidade do desporto motorizado?
R: Trabalho demasiado e não me sobra tempo para nada. Por isso acompanho tudo muito pouco. Passos os dias a correr de um lado para o outro sempre a pensar em todos os problemas que tenho para resolver.





14 – O Todo-o-Terreno está de luto com a morte de José Megre, para além de José Megre ter sido criador do actual Transibérico e Baja Portalegre 500 o que significava o José Megre para si?
R:É um Homem de referência nacional. É o “pai” do todo-o-terreno em Portugal. Foi ele que nos pôs a todos a correr e nos deu este gosto por África. É um exemplo.





15 – Este ano no Transibérico irão haver camiões e você vai lá estar?
R: Estou a fazer os possíveis mas o camião chegou á uma semana e está tudo para fazer. Vamos de gás a fundo a preparar tudo da melhor maneira. Faço votos que consiga estar presente. Se conseguir vai ser um record pôr um camião pronto a correr em apenas 4 meses.





16- Conte-me uma história engraçada no Dakar?
R: Não é muito engraçada mas é elucidativa de como as coisas funcionam. Neste Dakar partimos a transmissão e fomos apanhar as peças ao meio da pista. Tínhamos que pôr o camião a andar e o Marco vestiu o fato de macaco pronto para trabalhar. “Temos de andar nem que seja com tracção a duas rodas!” dizia-lhe eu. Mas ele saiu debaixo do camião com a má notícia. “Não há nada a fazer. O camião até anda com tracção a duas rodas mas não tenho como prender o óleo da caixa de transferências que se vai perder todo, vai “agarrar” e aí é que ficamos mesmo parados!” explicou-me ele. Respirei fundo e ao mesmo tempo ouço o Álvaro sugerir: “Espera lá, porque é que não pomos um saco de plástico?!” Pareceu-me completamente improvável que um saco de plástico conseguisse reter óleo quente sem se romper em 2 segundo. Mas este foi só o rastilho para uma ideia brilhante : com a tampa de um jarrican de plástico fizemos um magnífico vedante para o óleo que não verteu nem um pingo ao longo dos mais de quatrocentos quilómetros que nos faltavam fazer.





Agradecimentos: Elisabete Jacinto

1 comentário:

Anónimo disse...

Haja dinheiro, bela entrevista...
Mas o momento alto da carreira foi ter incendiado um camião e um buggy.